Em junho de 2025, o Estado português conta com 121 mil parceiros não remunerados, proprietários de imóveis arrendados antes de 1990, cujas rendas permanecem praticamente congeladas há mais de três décadas.

Apesar do atual estado governamental e eleitoral, continuamos a ter uma imensidão de pessoas que precisam de uma casa, cujo projeto de vida passa por terem uma casa. O cenário político muda, mas a necessidade de habitação continua a acentuar-se dia após dia. E agora…? Agora que continuamos a ter jovens e famílias da classe média que veem o sonho de ter casa própria transformar-se numa miragem?

Os nomes que damos às coisas importam. Importam muito. Fingir que os nomes não têm impacto é apenas uma forma de mascarar a realidade. Um burro é um burro. Não passa a cavalo porque alguém decidiu chamá-lo assim, mesmo que o faça com muita convicção. Por mais que tentemos repetidamente tratá-lo por cavalo, continuará a ser burro; torcer o significado da palavra não altera a sua natureza.

Previsivelmente, quando se fala de escassez na construção, o pensamento dirige-se para os grandes empreendimentos e para os projetos de novas habitações que tardam em chegar ao mercado. No entanto, o problema é, infelizmente, mais profundo e muito mais disseminado do que isso. 

Durante décadas, o acesso à habitação em Portugal foi sustentado por mecanismos que permitiram a muitos realizar o sonho da casa própria, mesmo num contexto de salários frequentemente desfasados dos preços do mercado imobiliário.

Bruxelas apresentou recentemente cinco recomendações claras para ajudar Portugal a enfrentar os desequilíbrios habitacionais: investir nos transportes públicos; mobilizar imóveis devolutos; regular rendas (com foco na proteção de grupos mais carenciados); limitar o Alojamento Local em zonas sob pressão e acelerar o licenciamento e a construção de habitação acessível.